Imagine receber um e-mail de alguém que conhece cada um dos seus recomeços, comentando sobre decisões que você tomou — ou adiou — quando tudo parecia improviso.
Pois eu imaginei. E tenho certeza de que essa mensagem começaria assim:
“Olá, você que está lendo isto. Aqui quem escreve é uma versão sua que aprendeu a desacelerar sem perder a vontade de criar. Lembra daquele projeto que você aceitou sem perguntar se fazia sentido? Só porque achava que oportunidades expiram em segundos? Pois é, deu certo, mas custou algumas noites em claro e um estômago embrulhado nas reuniões."
E a primeira vez que você precisou dizer “não” para caber no fim de semana? Você quase pediu desculpas por existir. Hoje entende que agenda vazia também é compromisso.
Houve o dia em que todo mundo opinou sobre o que você fazia. Um dizia que era bom demais para ser hobby, outro que nunca daria dinheiro. Você ouviu, agradeceu e percebeu que nenhuma dessas vozes paga suas contas emocionais.
Teve fase em que você comparou seus bastidores com feeds alheios. Trocou prazer por métricas, esqueceu de almoçar, transformou elogios em senha para se permitir descansar. Agora você mede sucesso pela paz que sente ao fechar o laptop.
Quando a grana apertou, você lembrou que generosidade não precisa ser sinônimo de trabalhar de graça. Houve troca justa, houve favor bonito, mas hoje você precifica a energia que coloca em cada entrega — e isso não te torna menos gentil.
Também existem vitórias: o e-mail que você quase não enviou e mudou um projeto inteiro, a mensagem de alguém que se sentiu menos só depois de te ouvir, o dia em que percebeu que coragem não é ausência de medo, e sim caminhar com ele do lado.
No fim das contas, você sempre esteve em movimento. Não por dominar todas as respostas, mas por continuar curioso. Todo mundo carrega suas constelações particulares — encontre as suas, compartilhe quando fizer sentido e siga.”